O amor na era da performance
- laura zago
- 25 de abr.
- 3 min de leitura

Será que estamos medindo os nossos relacionamentos ou como amamos o outro através dos fragmentos da realidade postados em nossas redes sociais? Quando é que o amor virou uma forma de consumir ao invés de se sentir?
A internet propiciou que tivéssemos acesso a um número incontável de contextos de vida, cada seguidor tem seu próprio mundo e realidade que são mostrados através de vídeos e fotos. Queremos contar histórias legais, divertidas e bonitas, fazemos uma varredura de tudo que acreditamos que seja ruim em nossa existência e postamos as partes boas ou uma versão do que seriam situações boas, e quando entramos no feed nos conectamos com aquelas histórias contadas, com aquela estática bem-feita, como se esse feed simbolizasse quem somos, quem queremos ser, enquanto no final estamos só querendo fazer parte. E você já se perguntou o que tem varrido da sua vida e editado para colocar no feed?
A constante necessidade de mostrar uma história bem contada e uma estética bem-feita acaba interferindo na forma como nos relacionamos fora desse espaço. Um sentimento tão complexo igual o amor parece que virou outro produto a ser consumido, e só pode ser consumido se for dentro de certos padrões. Algumas regras sobre o amor foram sendo estabelecidas em um mundo em que o que eu tenho vale mais do que quem realmente sou.
Bell Hooks em seu livro “tudo sobre o amor” traz que o desejo pelas riquezas materiais combinada com a gratificação instantânea leva a gente para a cultura da ganância em que as pessoas buscam o amor para obterem uma satisfação imediata, desconsiderando que o amar leva tempo, dedicação e compromisso. Tiramos todos os componentes mais preciosos do amor e colocamos ele como uma figura central para acabar com todo o sofrimento da nossa vida, não é difícil encontrarmos pessoas dizendo que seriam mais felizes em suas vidas se tivessem um amor, ou que o amor traria mais estabilidade e segurança.
O amor aparece para suprir a necessidade do feed, ao invés de servir como ponte de conexão entre quem somos e o mundo fora de nós. Bell hooks também fala que em um mundo sem amor, o desejo de conexão pode ser substituído pelo desejo de possuir. Até que ponto o nosso desejo de amar não está vinculado com os padrões perfeitos de uma rede social?
As pessoas acreditam que o amor é um sentimento mágico, a busca por mostrar e explorar ele nas redes sociais é a prova viva disso, a felicidade precisa ser anunciada, o sucesso precisa ser compartilhado e o amor precisa de uma plateia. Quando na realidade o amor acontece fora desses momentos, são nas conversas ditas ou não ditas, quando colocamos as nossas necessidades e nos preocupamos com a necessidade do outro. Porém os fragmentos da realidade nos geram algumas pressões invisíveis: “será que estamos amando da forma “certa”? Será que meu relacionamento é tão bom igual ao do outro? Será que somos suficientes sem os filtros e as edições?"
As redes sociais são um terreno fértil para comparação ainda mais em um mundo com tantos padrões. O amor acaba se tornando mais sobre o engajamento do que sobre conexões genuínas, em corresponder padrões do que priorizar as nossas necessidades. Se amar se tornou um espetáculo, onde fica a intimidade e a vulnerabilidade?
O amor acontece no dia a dia, nos erros, nos aprendizados e na construção mútua. E para desconstruir essas pressões invisíveis é essencial olhar para dentro, compreender nossas necessidades e questionar os padrões que nos aprisionam.
Se esse texto tocou em algo aí dentro, a psicoterapia pode ser um espaço para você se escutar de verdade. Sem filtros. Sem edição. Só você.
Laura da Silva Zago
Psicóloga
CRP 06/178820