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No tempo do "depois da pandemia"

  • Foto do escritor: laura zago
    laura zago
  • 24 de mar.
  • 3 min de leitura



Tenho me deparado com essa frase “tudo piorou depois da pandemia” muitas vezes na minha rotina, seja pelas palavras vindas de sofrimento vivenciado pelas consequências de um tempo sombrio, seja pelos hábitos que nunca retornaram, seja pelas pessoas perdidas, seja pelo simples fato da mudança. Certamente, somos a geração (e aqui me refiro a nós todos enquanto sociedade) que está tentando entender as consequências desse período enquanto vive esse turbilhão de mudanças. Vivemos anos sem poder cultivar aquilo que, enquanto espécie aprendemos, aquilo que nos aproxima de necessidades básicas - o afeto, o toque, a comunicação e a socialização. Quais os efeitos disso? Essa pergunta por mais tentadora de ser respondida, eu ainda não sou capaz de responder. Kristin Neff, em seu livro “Autocompaixão Feroz” diz que quando não nos sentimos tão sozinhos, nossa dor se torna suportável. Fiquei me questionando: o que aconteceu com cada pessoa se sentiu sozinho e calado diante de um medo sobre o que vai ser do futuro? Parece- me que essa dor se tornou quase insuportável. Tivemos que aprender a nos isolar fisicamente e mentalmente. Viktor Frankl diz que, quando vivenciamos situações traumáticas um dos mecanismos que usamos para suportar e nos proteger é a apatia - ao contrário de todo o discurso de comunidades que falavam “tenha empatia”. De certa forma, o ser humano é um conjunto imperfeito de diversas coisas que sempre busca o equilíbrio para sobreviver (eu acho que é aí que mora a grande genialidade do ser humano). APATIA é uma palavra temida dentro da sociedade e até da psicologia, mas tão usada e pouco falada nesse cenário que vivemos, de certa forma não é o melhor fenômeno a ser vivido pelo indivíduo e pelas pessoas que estão à sua volta, mas será que devemos exclui-la do nosso vocabulário ou devemos olhá-la e entendê-la? Quem sabe chamar para tomar um chazinho.


Esse fenômeno ainda sobrevive forte e pulsante nos dias de hoje, como uma forma de sobrevivermos aos dilemas sociais, tecnológicos, climáticos, políticos que estamos experienciando. Ao me questionar quais direções seguir a partir desse momento, tive algumas respostas e uma delas era justamente a EMPATIA. Parece-me que certas doses de empatia consumidas de forma intencional no nosso cotidiano, nos ajudam a nos sentirmos menos sozinho e talvez as dores possam parecer mais suportáveis. O que honestamente, é lindo de ser pensado e até de ser escrito, mas uma nova provocação veio à minha mente depois de me deparar com uma frase do Alexandre Coimbra, que diz: “a vida acelerada nos faz responder com coração nas redes sociais a um texto enorme e cheio de lágrimas escondidas entre as letras impressas bem desenhadas”. Como praticar a nossa humanidade em um mundo que está retirando a humanidade da vida?


O que me leva de volta à constatação feita no começo desse texto: estamos lidando com as consequências de tempos incertos enquanto passamos por ele, talvez essa seja a chave do portal da humanidade. Sentimentos difíceis ou prazerosos são experienciados independentemente do momento histórico que estamos vivenciando, não podemos simplesmente rejeitar ou dar soluções mágicas para eles, isso é o que nos torna imperfeitos, humanos, desejáveis e indesejáveis.


Descobrir quais as consequências do “depois da pandemia”, de forma geral, nos permitem entender quais os rumos que a sociedade tomou, nos permite nos sentirmos menos sozinhos, mas entender as consequências individuais essas trazem respostas ou conversas de como sobrevivemos a momentos sombrios de nossas vidas.


Laura da Silva Zago

Psicóloga CRP 06/178820

 
 
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